segunda-feira, 1 de junho de 2015

A VEJA, Juramento de Jornalismo e o Ovo.


Recentemente a revista com maior circulação do país, VEJA,  parece ter abdicado de coisas básicas que se aprende nas faculdades de Comunicação, como as palavras escritas no  Juramento de Jornalismo: "Juro / exercer a função de jornalista / assumindo o compromisso / com a verdade e a informação".
Em uma edição recente,  revista Veja, a qual  lidera a lista das revistas com maior circulação, com 1.098.642 exemplares ao mês, publicou uma reportagem de capa com os benefícios do... ovo(?!).
Parece piada, mas, sim foi essa a capa da revista. Até que a notícia me interessa, porque, diabético , ia ser mais uma coisa entre as que poderia  comer, com as minhas restrições de gordura, açúcar, carboidratos e colesterol.
Mas, a notícia é velha: a própria Veja a publicou há três meses.
Quais seriam as razões para que a publicação da Editora Abril ostentasse tal pérola de jornalismo investigativo? Censura vinda de um governo autoritário?
Quando o governo militar,em 1968, deu um “golpe dentro do golpe”, através do AI-5, alguns jornais publicaram matéria tapa buraco, devido à censura imposta pela ditadura. É famoso o caso do Jornal do Brasil, o qual publicou uma receita de bolo muito louca. E que foi campeã de cartas de senhoras reclamando que tentaram fazer o bolo da receita, mas que fora impossível.
Não estamos oficialmente em uma ditadura mlitar, como a que 1964. Pelo contrário: mesmo criticando o governo de Dilma Roussef, a revista VEJA e  grupo editorial Abril, do qual é seu carro chefe, recebe milhões de reais em verbas publicitárias oficiais.
Clarice Lispector escreveu um conto, falando em várias páginas sobre o ovo. Em Clarice, o tema já era chato, (para este que vos escreve)mesmo tão bem escrito, com alto valor literário. Já num pretenso veículo jornalístico, com paralisações e greves explodindo pelo país, na semana, uma capa sobre ovo e suas propriedades é claramente decretar a falência moral do jornalismo da dita "grande mídia".
Há uns meses, a revista VEJA parece estar engajada com muito mais intensidade em uma campanha ideológica contra o atual governo,  a qual não está fazendo bem a ela financeiramente, pois está havendo uma queda forte nas vendas e nas assinaturas da publicação. O mercado de revistas, como Veja e Época, encolheu 9,6% em 2014. A venda avulsa nas bancas e gôndolas de supermercado caiu mais ainda do que as assinaturas: 19,8%.  A empresa jornalística encerrou as atividades da Veja Brasília e Veja BH no impresso, e em maio foram anunciadas cerca de 40 demissões.Em São Paulo, os cortes atingiram os editores com mais tempo de casa e salários mais altos.
Segundo o IVC, estão incluídas nestes dados as assinaturas digitais, porém o crescimento nas assinaturas digitais é em número menor do que cancelamento de assinaturas no todo. 
Queda nas vendas significa queda no preço da publicidade inserida na revista, e que é sua principal fonte de renda. Um problema puxa o outro; com a falência da confiança na revista (encarada como uma publicação que não reproduz a verdade) um anunciante pensa duas vezes antes de associar-se a um veículo cujo produto (a informação) apodrece a olhos vistos.
  A desculpa convencional para a crise é aquela de plantão em nossos dias: a força da internet provoca a queda nas vendas de revistas e jornais. Mas como convencer a uma dona de casa, ou um estudante a pagar caro por uma revista que pouco contribuirá em sua formação e informação, com matérias como a “importância do ovo”? 
A Internet tem propiciado, pela aceleração da informação (e com certeza pela falta de atenção e espírito critico de muitos jornalistas), outras "barrigas”, mas em tempo de Twitter, redes sociais e celebridades instantâneas, algumas empresas de jornalismo parecem esquecer-se das regras aprendidas na faculdade,  e com uma preguicinha típica de Macunaíma, copiam, colam, e publicam o que ex-BBB’s artistas de TV, ou outra fonte qualquer publica nas redes sociais. E os critérios jornalísticos ficam boiando escondidinhos em algum lugar nas gavetas, entre mouses com defeito e quem sabe,  manuais de redação e estilo.
Será que não chegou o momento de se perguntar até onde vai preocupação com as “celebridades”, e a atenção a critérios mínimos jornalísticos devem ser levados mais em conta?


Para quem quiser ler o conto de Clarice Lispector citado, O ovo e a galinha, eis o link:
http://goo.gl/QDDANb






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